CIDADE

Por Larissa Lima, Priscilla Costa, Rafael Schroder e Leonardo Resende

Tempestade de Verão na instabilidade da Primavera

A forte chuva que caiu em Niterói na quarta-feira 24 de outubro, pegou a todos de surpresa. A Defesa Civil registrou mais de 10 chamadas emergenciais para atenderem locais de desabamento. O caso mais grave aconteceu na Estrada Frei Orlando, no bairro Jacaré, na Região Oceânica, onde uma casa ruiu, felizmente sem vítimas.
A niteroiense Edna Alves Moraes, de 34 anos, foi vítima da torrencial tempestade que a pegou de surpresa.

“Moro no centro de Niterói e a minha rua encheu, entrou água na minha casa e na maioria da vizinhança também. Eu fiquei ilhada dentro da minha residência e não consegui trabalhar”, contou.
Os motociclistas se dizem os mais prejudicados. Eles reclamam por terem de trabalhar mesmo debaixo de chuva.
“É preciso ter atenção redobrada nesses dias, porque o que mais tem nessa cidade é bueiro aberto e ruas esburacadas, é um perigo pra gente”, destacou Fabiano de Jesus, que trabalha como motoboy há mais de 10 anos.
O subsecretário de Defesa Civil de Niterói, Márcio Romano, informou que o órgão atua com as unidades do Corpo de Bombeiros na cidade. Ficaram todos em estado de alerta máximo. Os bairros mais afetados foram os da Região Oceânica e da Zona Sul.
O Instituto Brasileiro de Meteorologia (Inmet), informou que a forte chuva que atingiu todo o Estado foi em decorrência da frente fria que chegou ao Brasil. A tempestade foi fruto da influência de áreas de instabilidade provocadas pelo encontro da umidade vinda da Amazônia. O Sistema de Meteorologia do Estado (Simerj) informou que, em menos de 24 horas, choveu no Estado do Rio o equivalente ao que deveria chover durante todo o mês de outubro. Segundo o Simerj, só em Niterói choveu 105,4 mm desde a madrugada de ontem até agora. Ainda segundo o Instituto, a forte chuva é um fenômeno característico da instabilidade da primavera com a chegada do verão.

Primavera
Começou a estação mais instável do ano, a primavera, e com ela as rápidas mudanças de temperatura que obrigam cariocas e niteroienses a ter que se adaptar com bom humor às constantes variações do clima, já que é possível no mesmo final de semana se aproveitar um dia de muito sol nas praias e no dia seguinte ter que colocar o casaco mais quente do armário.
Isto porque, segundo os meteorologistas do Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), a principal característica desta estação, que vai de 23 de setembro a 22 de dezembro, é a instabilidade, já que é um período de transição entre o inverno e o verão. .

Mudanças
A instabilidade climática provoca uma série de mudanças, principalmente na moda. A estilista Ingrid Cunha, de 25 anos, diz que a coleção deste ano já apostou no clima primavera-verão. Mesmo com mudanças bruscas de temperatura, já estão em alta nas vitrines da cidade os vestidos largos e coloridos típicos do verão. “Contudo, temos que nos acostumar com essas variações e nos adequarmos, tendo em mãos sempre um casaco ou bolero”, revela a estilista. Aliás, é o que pensa também a gerente de loja, Ana Maria Leite, 47 anos, que não sai de casa sem um casaco: “Sinto frio só com o ventinho da noite”. Mas para a recepcionista Natasha Coutinho, de 18 anos, esse frio repentino é bom para refrescar, e acha desnecessário o uso de agasalhos na primavera, mesmo com características de inverno: “sou a favor da calça jeans e camiseta”.
Mas, não é apenas na moda que a instabilidade se reflete. As repentinas frentes frias provocam doenças típicas desse período. Gripes, resfriados e febres em crianças e idosos são os casos mais comuns. É o que alerta, o médico Flávio Castro, do Hospital Universitário Antonio Pedro, em Niterói: “Grande parte dos pacientes que chegam ao nosso hospital nessa época apresentam sintomas semelhantes, febre, dores no corpo e indisposição. A maioria desses casos acontece com crianças e idosos.”, diz.

A saúde
Os problemas respiratórios também são comuns quando a temperatura cai. Ainda de acordo com Flavio, ocorrem desde casos mais leves, como congestões nasais, às mais graves, como pneumonia.
Com a oscilação da temperatura, a procura por atendimento nos hospitais aumenta, por isso alguns cuidados são necessários. Essa é orientação da médica e plantonista do Antonio Pedro, Carla Hentzy: “Nessa época, se cada pessoa tomar cuidados simples como se agasalhar bem, ter um hábito alimentar saudável e beber bastante líquido, principalmente água, muitos casos seriam evitados”, alerta a doutora. Segundo ela, a auto-medicação é uma prática que pode agravar algumas ocorrências, pois muitos lêem apenas a bula do remédio e acham o conteúdo suficiente para a sua recuperação..

Atraso na estação
O clima seco deverá ser predominante nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, o que deve durar até o início de novembro. A previsão é do meteorologista, Marcelo Seluchi, que fala sobre a movimentação do ar na atmosfera e a dificuldade na formação de chuvas no Centro-Oeste, Sudeste e Norte do país.
- Historicamente, a estação chuvosa começa na primeira quinzena de outubro, mas estudos apontam para um atraso na chegada das chuvas em até duas semanas. Isso quer dizer que, nessas regiões, o clima seco deve permanecer até o final de outubro ou começo de novembro, disse Seluchi.
O fenômeno La Niña (esfriamento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical), segundo Seluchi, é o responsável pela diminuição das chuvas em várias regiões como a Sudeste. Espera-se pancadas de chuvas à tarde por causa do calor, as frentes frias também trarão chuvas, mas elas não ficarão muito tempo sobre o Rio, no máximo três dias.